Nem na crítica literária nem nas ciências sociais existe
uma última palavra. Ou, se existir, chamamo-la violência
Paul Ricoeur
na procura da utopia descritiva
ou
o prazer de disiludir:
a prática de análise dos discursos e ideologias dominantes como a construção dos
alicerces de uma utopia e de uma política e de uma própria ideologia onde os leitores se
possam posicionar:
a distorção ou flexão dos dados para a sua interpretação deliberada:
a construção do dominante COMO dominante para facilitar o
reconhecimento da dominação e, portanto, a aceitação da única alternativa da
olhada utópica:
o aproveitamento do espaço discursivo da própria análise para a geração das redes
de posicionamento ideológico em favor do utópico:
a produção de uma consciência utópica transformadora, não possibilista:
a apropriação das subjectividades dominadas, num processo de deslocamento, para
experimentar a possibilidade da dominação e portanto a consciência (a
experiência directa da dominação e da violência obfusca os sentidos):
a geração de riqueza simbólica através da possibilidade de ré-construir o discurso
dominante, contra a vontade dos seus produtores:
ou, melhor ainda, com a sua conivência, assente na sua certidão de que a nossa
utopia não vulnerará a sua lógica de dominação:
isto é:
a análise do discurso como a construção da Utopia Descritiva
ou
o prazer intelectual de disiludir
28.09.1999 |